sábado, 9 de junho de 2007

Castelo de Cartas...

Castelo de Cartas

Às vezes
A gente pensa
Que está tudo certo...
Mas não está.
A comodidade
É a maior segurança,
Até alguém puxar
A última carta do monte.
Aí, desabamos,
Sem saber o que aconteceu,
Só sabemos que caímos
E não temos onde segurar.
Construímos novamente
O castelo da cartas
Com carinho, amor
E cuidado.
Não demora a ficar pronto,
Vem outro e assopra;
Novamente caímos
Sem ter onde apoiar.
A vida é assim,
Caímos mais rápido
Do que levantamos,
E somos felizes?
Só é feliz aquele
Que nunca desiste
De se levantar
E erguer
Um novo castelo.
Fernanda Paredes

Quem nunca fez um castelinho de cartas quando criança??? Recentemente, levado pela onda “Uno” que vem assolando a nossa juventude, tive a oportunidade de matar a saudade desta brincadeira infantil. Sim, isso mesmo. Fui erguendo o castelo, cada carta, apoiando uma na outra e carta por carta, o castelo ia se tornando realidade. Quando terminei, passei algum tempo observando aquele pequeno amontoado de cartas… Em seguida, bati com força na mesa e o castelo desmoronou, ao mesmo tempo em que o pessoal perguntava o que eu estava fazendo...
É muito interessante perceber que uma simples brincadeira nos traga tantas lições de como pode ser a nossa vida...
Dependendo de como você coloque as cartas, do ambiente e das características da superfície do local onde você está montando o seu castelo, você obterá sucesso ou não na sua empreitada. E mesmo assim, outros fatores podem surgir ao longo da construção, desviando o seu foco de atenção, mudando os seus planos originais, fazendo com que “antigos” castelos cedam espaço para os “novos”. Assim, tudo o que nos rodeia, incluindo a nós mesmos, está mudando constantemente. E como castelos de cartas, a maneira como mudam as coisas ou as pessoas está em função da sua relação com seu meio.
Nossa vida está cheia de novas possibilidades para o futuro. Tudo depende da maneira como nos enxergamos – o quanto reconhecemos nossas possibilidades - e que tipo de relações criamos.
Recentemente, me deparei com o texto de Atos 9, que nos fala da conversão de Paulo. ..Que momento na história da comunidade cristã! O que outrora perseguia é agora um irmão (v.17) e aquele que respirava ameaças e morte contra os discípulos (v.1), se esforçava agora, cada vez mais, para provar que Jesus era o Cristo (v.22). Tudo muda não só na sua aparência ou forma mas também na sua natureza ou significado. E Deus está a frente, carta por carta, e se for necessário, ele baterá na mesa quantas vezes por preciso e começara novamente a obra em nossas vidas, pois somos instrumentos seus escolhidos para um objetivo (v.15,16).
Outro fato que nos chama a atenção diante disto é a nossa atitude. Percebemos hoje, lendo o livro de Atos, o que Deus queria fazer na vida de Paulo, mas lembre-se, ele não conhecia este livro...ele não compreendia o que estava acontecendo...a vida para ele, naquele momento era uma caixinha de surpresas...num dia de sol, a caminho de Damasco, seu castelo começara a ruir...aquele que um dia sonhara em sentar numas das setenta cadeiras do sinédrio e legislar sobre o povo judeu, encontrava-se agora cego em um quarto escuro, muitos estariam murmurando o seu estado, diante de sua posição social, de quem ele era, mas por Deus(...), não este homem, não Paulo de Tarso!!! Diante das circunstâncias que lhe afligiram ele se colocou a orar (v.11)
Podemos assim aprender outra grande lição quando as cartas caem...Não existe um valor absoluto - bom ou mau - designado às coisas ou eventos das nossas vidas. Seus significados dependem, essencialmente, do que fazemos com eles. Sem importar o doloroso ou desafortunado que possa ser um evento que possamos encontrar, ainda podemos criar dele um significado positivo, dependendo de como o vemos e o quê fazemos com ele. Nossa visão e as ações resultantes, porém, estão determinadas não simplesmente pela nossa compreensão intelectual e sim pela nossa consciência essencial ou o estado do nosso ser mais profundo com Deus. É nestas horas que me lembro de Pedro e João, quando interrogados e ameaçados pelos fariseus para que não mais pregassem a Cristo (At 4:18-24).
Qual seria a nossa atitude se o Supremo Tribunal Federal nos ameaçasse de prisão, perda de nossos bens, etc., caso continuássemos a infligir à Lei, pregando o verdadeiro Cristianismo e sua doutrina contra o homossexualismo e outras questões?
Alguns ficariam aflitos, mas não estes homens. O significado que a vida tinha para eles e do seu relacionamento com Deus era diferente. Mesmo na adversidade, eles encontravam a paz de espírito, a alegria e o contentamento. Quem diria que Pedro teria este tipo de atitude? Nada é exatamente igual de um instante para o outro, as coisas podem ser ruins, como também podem melhorar. Portanto, melhorar nossa vida é possível, e sempre seremos capazes de fazê-lo. Neste sentido, estabelecer limitações equivale a viver sob a ilusão de que a imagem que temos de nós mesmos ou dos outros, neste momento, é uma realidade fixa. Assim como Pedro que, não se achou digno de Cristo e voltou aos seus afazeres após a morte de Jesus, foi necessário uma “conversinha” em particular com Jesus (Jo 21:1-18) ou mesmo Ananias quando ouviu a respeito de quem ele iria encontrar na casa de Judas. As pessoas se admiravam de que até então era alguém com sede de sangue dos seguidores do “Caminho”, agora defendia a Cristo (At 9:21). Aproveitando que estamos falando de Ananias, outra lição que podemos aprender com as cartas seria que nenhuma carta permanece de pé sozinha.
Muitos acreditam que o cristianismo que conhecemos começou em Paulo, não que eu esteja discordando, longe disto, mas voltemos ao texto...Saulo de Tarso encontrava-se cego num quarto orando ao Senhor. Em outro lugar daquela cidade, um homem recebia de Deus uma missão que causara certa ansiedade e temor (v.11).
Ananias relutou a princípio, diante do que poderia acontecer com ele, porém, ele obedeceu a Deus (v.17). E como é maravilhoso o modo como Ananias começa aquele encontro...chamando a Paulo de irmão. Não podemos perder isto de vista nunca!!!!
Esta acolhida simples, porém de um valor ímpar na vida de Paulo. Elas, como o próprio John Stott afirma: “podem muito bem ter sido as primeiras palavras que Saulo ouviu de lábios cristãos após sua conversão, e foram palavras de acolhida fraternal”. Imaginem, porém, se Ananias não tivesse ignorado os seus temores fechando os olhos da fé e tivesse desobedecido ao Senhor?
A vida de Ananias encontrou sentido quando Ele ouviu a voz do Senhor. Não existimos totalmente por nossa conta. O significado da nossa vida - e da nossa felicidade - surge através dos relacionamentos que desenvolvemos com os que nos rodeiam, com a comunidade e o mundo no qual vivemos. Esta foi a primeira visão que Paulo teve, a de que não existe Cristianismo sem o próximo. A nossa felicidade se encontra no outro. Não existe distinção fundamental entre nossa felicidade e a dos outros. Cair na ilusão de que somos independentes dos outros é afastar-nos do mundo que nos rodeia e do chamado que recebemos de amar ao próximo como Cristo nos amou (Jo 13:34). Não reconhecer e apreciar isto devido à ilusão do egoísmo, dos próprios interesses, de querer ser independente originará desequilíbrio e infelicidade. Isolados, nossa vida perde significado. Não importa quão belo, rico, atraente, inteligente eu possa ser!!!
Mas, dependendo de como nos relacionamos com os outros e com nosso ambiente, podemos realizar o infinito potencial que possuímos e compartilhar nosso próprio valor com os demais. Neste sentido, os mais desafortunados são aqueles que se isolam na prisão do seu próprio egocentrismo e trancam a porta por dentro insistindo em que suas vidas são fundamentalmente separadas. Numa irônica inversão da sua verdadeira intenção, os que procuram um valor absoluto na sua própria existência, ignorando a felicidade dos outros estão, na realidade, esvaziando sua vida de significado. (Lc 9:24) Com a ausência dessas relações, tudo o que fica é o “vazio”.
Se compreendermos que nossa vida se encontra nas mãos de Deus, carta por carta, sonho por sonho, podemos ter a garantia que Ele irá nos surpreender, para tanto se faz necessário termos fé de que, mesmo enfrentando situações que aos nossos olhos pareçam difíceis, tudo é possível para o Senhor, nada é imutável, basta que venhamos a obedecer à sua vontade, algo que nos enriquece como ser humanos, promovendo o nosso crescimento espiritual e desenvolvendo o que há de melhor em nós, o que por sinal nos garante a verdadeira felicidade que se encontra em amarmos uns aos outros, como Cristo nos amou primeiro.
Deus os Abençoe
Marcus Aranha

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