sábado, 9 de junho de 2007

Velho demais?

Recentemente completei 31 anos de idade, eu estava em Porto Alegre na companhia de minha irmã, meu cunhado e pouquíssimos amigos gaúchos que estavam loucos para provar da culinária nordestina. Mesmo ciente das palavras do inesquecível Picasso que afirmava que “a inspiração só aparece quando lhe apetece e não quando é invocada em nome de uma necessidade premente de criação”, aceitei o desafio, sem saber exatamente como iria cumprir com a minha palavra, pois para os que me conhecem, sabem que a cozinha para mim não é um ambiente, vamos assim dizer, amigável. Convide-me para lavar pratos, mas cozinhar não é minha especialidade. Mas o desafio era estimulante e resolvi ir em frente, como diz o ditado: “viver é correr riscos.”
Aproveitei então para fazer um dos meus pratos prediletos, creio que vocês conhecem o nosso famoso “arrumadinho”, tirei um dia para comprar os ingredientes, felizmente, minha mãe havia enviado uma remessa de carne de sol e charque, foi o que me salvou! Porém, quando me pus diante do balcão, faca em mãos para “preparar” a carne, cortar cebola, pimentão, tomate e todo o resto do trabalho que teria pela frente, quase desisti! Além do mais, precisava organizar a viagem para Gramado, reservar hotel, ver os programas turísticos, etc., este momento se tornou um tormento. No entanto, a oportunidade de aprender algo novo, de superar os contratempos e apreciar os resultados que com certeza brotariam no final, diziam-me que continuasse, pois eu iria conseguir. Afinal de contas, eu posso vencer os meus medos. Se tudo precisasse estar bem e do jeito que eu imagino que tenha de ser, para estar bem comigo mesmo eu acabaria refém das circunstâncias. Liguei para a minha mãe e recapitulei todos os passos necessários para fazer o famoso “arrumadinho”. Lentamente fui tomando nota de tudo o que eu deveria fazer. Comecei a revisar tudo o que ela havia me dito, tudo agora começava a ficar mais claro e, relativamente, fácil, eu sabia como fazer o feijão e o arroz, como fritar a carne, corta os legumes, etc., como um bom matemático, fui cortando e misturando tudo nas devidas proporções, mas em um determinado momento, novamente me vi diante de uma equação que eu não saberia resolver. Como um estudante que pela primeira vez escuta o professor mencionar que terá uma prova surpresa de Derivadas, ali estava eu diante de uma inequação cuscuziana, sem saber para onde ir. Como um arqueólogo ,fui obrigado a reler todos os manuscritos dos mestres da cozinha, passando de Boccato a Olivier Anquier, mas nada encontrei. Estava a ponto de desanimar, a única coisa que me mantinha de pé, era a certeza de que é justamente nestes momentos que Deus proporciona um alívio, uma válvula de escape e isto brotava dos meus pensamentos mantendo a serenidade, a alegria e a paz diante da poucas horas que me restavam para terminar os pratos. Pra minha felicidade, minha irmã estava chegando em casa e disse que não me preocupasse que o cuscuz ela faria. Problema resolvido! Deus me concedia a chance de extrair o máximo de conforto de dentro dos sapatos que eu, naquele momento, estava calçando. E é nestas horas, que aprendemos o verdadeiro sentido da alegria e contentamento. Se soubermos extrair muito do pouco que temos, estaremos preparados para ter muito mais, caso contrário, o nosso muito jamais será suficiente. Seremos vítimas da eterna insatisfação. Como se diz, quem almeja dias felizes precisa aprender a chorar. E assim foi comigo...Nunca ache que é tarde demais para aprender algo na sua vida. Felizes são os que ainda não adquiriram o “canudo”, nem se formaram na “Faculdade da vida”, pois jamais irão envelhecer, serão por toda vida, jovens aprendizes, diferente de muitos que “envelheceram” mesmo tendo 20 ou 30 anos. Deixaram de sonhar, perderam a esperança e se deixaram levar pelas ansiedades, necessidades, compromissos e problemas da vida, tornando-se tão complicados quão complicadas são suas vidas, que às vezes nem nós suportamos, pois vivem reclamando e murmurando, disto ou daquilo.
Quanto a mim, vou agradecendo a Deus, pelas novas aulas que ele me proporciona, aprendendo sempre novas lições que me mantém me ensinam a ser feliz mesmo diante das adversidades e preocupações, pois sei que os problemas nunca desaparecerão de nossas vidas, mas que minha atitude diante deles pode ser diferente.
Ah, Quanto ao jantar...felizmente, todos adoraram o “arrumadinho”, repetindo o prato diversas vezesssssssssssssssssss!!!

Marcus Aranha

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