sexta-feira, 15 de junho de 2007

EU SEI QUE ISSO VAI PASSAR...




Certo dia, João, um vendedor que fazia rota pelo interior da Paraíba a mais de sete anos sofreu um pequeno acidente a caminho de Patos. Enquanto visitava alguns clientes da cidade de Catingueira, o seu carro quebrou, deixando-o impossibilitado de locomover e o conserto levaria alguns dias. O clima da cidade era horrível, quente e seco. Não havia muito verde e o principal meio de subsistência da economia local era o bode. Sem ter onde ficar, ele procurou um dos seus clientes, Severino, que de imediato entrou em contato com Zé Bonifácio, conhecido como “Bodão”. Severino disse que Zé “Bodão” era o maior criador de bodes da cidade, tendo um patrimônio tão grande quanto o de Pé de Ouro, um rico agricultor de uma cidade vizinha. Severino afirmou que Zé ficaria muito feliz em hospedá-lo. Todos conheciam a fazendo do Zé “Bodão”, ela era imensa, com mais de 5000 hectares com sede completa, galpões, nascentes e represas, pastos e currais, era uma coisa linda de se vê. Ao chegar à casa de patrão, João foi logo recebido por Zé “Bodão” que veio correndo saudá-lo. Era ele um homem alto e forte, de mãos calejadas pelo trabalho e de pele sulcada pelo tempo, mas tinha um olhar afável e gestos próprios de quem sabe zelar pelo próximo. Zé, que era muito hospitaleiro, insistiu que João ficasse o tempo que fosse necessário para consertar o seu carro. A mulher e os filhos de Zé “Bodão” eram iguais a ele, procurando sempre o melhor para a sua visita. Ao longo dos dias que se passaram ali na fazenda, João teve o prazer de conviver com aquela família e conhecer todas as riquezas que Zé possuía. Quando soube que o seu carro estava pronto, Zé providenciou uma grande festa de despedida para o seu hóspede. Quando chegou o momento de sua partida, João, agradecido por tudo o que Zé “Bodão” havia feito por ele, o parabenizou por sua família e por todas as riquezas que Deus havia concedido a ele. Porém, Zé “Bodão” com um sutil sorriso nos lábios lhe disse:
- Não se engane João, eu sei que tudo isso vai passar...
João ao longo de suas viagens, já havia visto de tudo um pouco, tinha conhecido muitas histórias, ouvido muitos “causos”, porém, jamais havia ficado tão intrigado com tão poucas palavras por toda a sua vida. Passou toda a viagem pensando no significado daquela resposta. Quando enfim chegou a Patos, era por volta do meio-dia, foi até a churrascaria Boi Forte e enquanto aguardava a Rabada meditou sobre as palavras de Zé “Bodão”, mas não conseguia compreender o que elas queriam dizer. Sendo assim, as deixou de lado por algum tempo, pois sabia que no tempo certo, ele as compreenderia. Assim se passaram os anos e João continuou a atender a região por mais alguns anos até que foi promovido a supervisor, sendo agora responsável pelos maiores clientes da Paraíba e Pernambuco. Depois de cinco anos passados sem visitar a cidade de Catingueira, João teve o prazer de, juntamente, com o seu vendedor voltar àquela cidade. Quando chegou a loja de seu Severino, foi logo perguntando por seu amigo Zé “Bodão”. Entretanto as notícias não foram das melhores. Severino mencionou que Zé “Bodão” morava agora na cidade vizinha com sua família e que estavam trabalhando para Pé de Ouro, visto que toda a criação de Zé foi dizimada por uma doença, assim como a de outros criadores, perdendo assim, o seu patrimônio. De imediato, João foi até Mãe D´agua, ver se achava o seu amigo. Quando lá chegou, mal dava para acreditar, o homem bem vestido que um dia conhecera, agora usava roupas velhas e desgastadas pelo trabalho na lavoura, mesmo assim, o espírito daquele homem e de sua família permanecia inabalável, a atenção e o cuidado com os visitantes eram os mesmos. A imensa fazenda que um dia viveram, agora se resumia a uma pequenina casa de 3 cômodos. Como outrora, receberam a João, providenciado comida e um lugar para que este descansasse da viagem. Ali permaneceu João até o final da tarde na companhia do seu amigo. Quando a noite despontou, João disse que já era hora dele partir, pois tinha de se encontrar com o seu vendedor, mas antes de ir embora, mencionou que sentia muito por tudo o que havia acontecido com o seu amigo e que tinha certeza de que, se Deus tinha permitido isso é porque Ele tinha seus propósitos, os quais muitas das vezes, desconhecemos. Contudo, para a surpresa de João, mais uma vez, Zé o surpreendeu, dizendo:
- Fique tranqüilo meu amigo, eu estou em paz, pois sei que tudo isso vai passar...
Aquela frase revirou os recônditos da mente de João. Parecia que foi ontem que ele tinha ouvido aquelas palavras, mas o contexto na época era outro, Zé agora passava por dificuldades, tinha perdido tudo, mesmo assim, permanecia tranqüilo e com um largo sorriso nos lábios.
A lembrança da serenidade daquele homem, do contentamento de sua família com a situação em que se encontravam, perseguiam João, como o leão persegue a sua presa.
Por que aquele homem, mesmo depois de tudo o que passou continua em paz, tranqüilo e com pensamentos positivos? Como ele consegue?
E por mais que ele pensasse sobre o assunto e se questionasse, ele não conseguia encontrar a resposta. Assim, mais uma vez, decidiu esquecê-la e deixar que o tempo resolvesse isso por ele.
Passado alguns anos, novamente, João se encontrava com o seu vendedor em Catingueira. Como de praxe, deixou o vendedor visitando os clientes e partiu em direção a fazenda de Pé de Ouro para rever como andava o seu amigo Zé “Bodão”. Foi até a antiga casa onde o seu amigo estava até então residindo, mas para sua surpresa, não encontrou Zé. Preocupado, se dirigiu até a casa grande, pra obter informações sobre o paradeiro do seu amigo. Ao bater na porta, algo inesperado aconteceu. Era Zé “Bodão” que estava à porta.
- Meu amigo João, como é bom lhe ver!!! – exclamou Zé “Bodão”
- O que houve Zé? – quis saber João.
Depois de horas conversando com o seu amigo na varanda do casarão, João ficou sabendo que Pé de Ouro havia falecido fazia três anos e como não tinha herdeiros, deixou todos os seus bens para Zé “Bodão” por ter sido um empregado fiel e de confiança, bem como, toda a sua família.
- Como estou feliz por você meu amigo – dando um abraço em Zé “Bodão”- por ver você bem, assim como sua esposa e filhos!!!
- Mas isso tudo vai passar João!!! – exclamou Zé “Bodão”, enquanto sorria e correspondia ao abraço de João.
Muito tempo se passou desde então e sempre que podia, João visitava o seu amigo Zé, até que um dia recebeu a notícia de que este veio a falecer. Infelizmente, João não pode comparecer ao enterro, pois se encontrava em viagem e não conseguiria chegar a tempo para o mesmo. Depois de algumas semanas, ainda triste e abalado pela morte do seu grande amigo, resolveu ir visitar a viúva e os filhos do seu amigo e procurar saber como eles estavam. E assim fez. Passado algumas horas em companhia daquela família, se dirigiu até o pequeno cemitério da cidade onde se encontrava o túmulo de Zé “Bodão”. Era simples como foi o Zé, mas para o seu encanto e admiração, quando dirigiu os seus olhos para o epitáfio o mesmo dizia: “ Até isto vai passar...”
Parecia que João ainda estava ouvindo a gargalhada do seu grande amigo quando dirigiu seus olhos para os céus.
Os anos se passaram e João se tornou um dos melhores Gerentes Comercial de sua empresa. Ainda vendedor, casou-se com uma bela jovem que havia conhecido em Campina Grande e com ela teve dois filhos. O mais velho agora com 22 anos estava no último período de Direito. João quis lhe dar um anel de formatura, mas que este tivesse um significado ímpar para o seu filho. João queria que, de algum modo, todas as vezes que o seu filho olhasse para aquele anel, tivesse o mesmo sentimento que ele tinha quando encontrava-se com Zé “Bodão”. Ele queria que seu filho, todas as vezes que o estivesse triste, ao olhar para aquele anel, permitiria que a alegria invadisse o seu coração. Assim como, todas as vezes em que achasse que tinha tudo na vida e que ele era o melhor, ao olhar para o anel, se entristecesse por sua arrogância e reconhecesse que necessita e depende inteiramente de Deus.
No dia da formatura, João entregou ao seu filho um belíssimo anel, com um rubi que refletia o carinho e amor daquele pai pelo seu filho.
Ao colocar no dedo o anel, seu filho ainda encantado pelo presente do pai, dirigiu o seu olhar para uma inscrição que tinha ao longo do anel e ficou intrigado e ao mesmo tempo empolgado pelo que sentiu ao ver aquelas palavras em seu anel...
Você sabe o que tinha escrito no anel??? Rssss

Deus os abençoe!!!

Marcus Aranha

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